terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O Falecido Sr Shakespeare



A leitura de “O Falecido Senhor Shakespeare”, de Robert Nye, abriu-me uma caixinha de pequenas histórias, assentes em factos e ficções, em torno de um dos maiores vultos da literatura mundial, que sempre idealizei como uma personagem sobre-humana, possuidora de uma sensibilidade e poética ultra-especial: William Shakespeare.
Esta confusão entre os factos e a especulação acerca dos aspectos mais pessoais da vida do escritor, ao longo de toda a narrativa do livro, não acontece por acaso, mas é explicada da seguinte forma: “Leitor, as nossas vidas reais são ficções. Crede que a ficção é a melhor biografia.”
Assumindo, assim, a biografia falaciosa, as histórias vão sendo narradas por um (suposto) velho actor da companhia teatral do dramaturgo, algumas décadas após a sua morte...Robert Reynolds, carinhosamente apelidado por Pickleherring.
Como é comum, com o peso dos anos Pickleherring revela-se uma criança espirituosa num corpo de velho, traquina e terno ao mesmo tempo, inseguro no seu corpo mas de uma sapiência invejável. E, claro está, devoto incondicional de Shakespeare.
Depois de tanta tinta entornada sobre a história e obra do grande escritor, este livro emerge à superfície da minha cabeceira, com vontade própria de um novo respirar, mais fresco e apetecível.
Não creio, no entanto, que o ar renovado seja o suficiente para me saciar, enquanto refém de uma vontade caprichosa de sorver toda a sabedoria de Shakespeare, através das suas obras e do seu percurso espiritual.
Esta insaciedade, presa a tudo na vida, é no livro confirmada, na referência de que “a verdadeira história é o que não pode ser contado”.
Mas, com o tempo, aprendemos a libertar essa tensão, pela absorção equilibrada de cada um dos seus elementos. Oxigénio, nitrogénio…formam o composto do ar. E não nos engasgamos, se nos soltarmos da imensidão, para apreciar cada parte do seu sabor.
Sim. Respirar sabe tão bem…

Para mim, este livro serve dois gostos principais.
Picante e malicioso, arde na língua e custa a engolir, pois tempera a mentira desbocada ao jeito do mexerico, com obscenidades e ingredientes sórdidos, demasiado fortes para quem sofra de rabos sensíveis, hemorróidas, ou outros males religiosos. Mas deixa também um gosto doce de sinceridade, que conforta e acompanha a digestão do leitor resistente que, apesar do rubor, chega ao prazer da entrega esfaimada e ao refinamento do paladar. Pela abertura, não da boca, mas da mente devoradora.
Não é pois fácil este processo degustativo, quando a prova passa a refeição pesada, se estivermos há algum tempo em situação de jejum. Contudo, tal como o respirar, se estivermos em paz, o organismo avança sozinho e absorve os nutrientes essenciais, num repasto tão delicioso, que não causa qualquer mau estar. Capítulo a capítulo, prato a prato em cima da mesa.
A leitura naturaliza-se, apesar das voltas e contravoltas, em torno de algumas das trivialidades que o autor nos narra exageradamente, uma vez que não lhes afirma veracidade real; perde-se, por vezes, num rodízio perigosamente enjoativo, de suposições que alimenta por vários capítulos, como se de um criador de receitas se tratasse…para a sua própria fome de Shakespeare.
A verdade é que a ficção alimenta. E de que maneira.
Não vejo, por isso, mal em devorarmos com o mesmo apetite cada fantasia em torno da intemporal “personagem sobre-humana” que, para mim, sempre esteve aquém do comum mortal, limitado na escrita e no coração.
Aos poucos e sem pressas, foi aí que encontrei a ligeireza deste livro, no amor com que foi cozinhado, ao lume de uma beleza maior (presente em todas as obras shakespereanas).
A minha fome não é de páginas, mas sim de fantasias.
E nesse sentido, arrotei.
Esta era também a fórmula de Shakespeare...
Só ao fantasiar, poderemos tirar ilações daquilo que pode ser o real.
Talvez seja este o segredo da sua composição.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Momentos V



From the film "Perfume - The Story of a Murderer" - Tom Tykwer, 2006

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Um qualquer texto, sobre um qualquer Portugal



No programa Os Portugueses Preferem os Vilões, gravado no Portugal dos Pequeninos, o vencedor da décima oitava temporada, José Sócrates (por votação do público), prometeu a união das forças do mal de cada um dos partidos, para perpetuar o reino da democracia obscura…onde a liberdade, após cruelmente desfigurada, continuará encarcerada numa masmorra profunda.

Quem irá salvá-la e restituir-lhe o rosto perfeito, em que todos acreditávamos?

Os que se recordam afirmam que parecia uma mulher simples, mas poderosa. No entanto, os “príncipes negros” roubaram-lhe as virtudes e tornaram-na azeda. Agora, temem que nem as plásticas do Dr. Tallon possam devolver-lhe a sua beleza original.
Outros, por nunca a terem visto, acreditam que talvez não passe de uma lenda, que o povo alimentou como esperança da salvação dos governos do mal, mas que na verdade nunca existiu.

O facto é que o descrédito na liberdade alimentou uma sombra, que paira sobre a cabeça dos portugueses e não os deixa, por isso, ser racionais. Alienados sob o comando de promessas absurdas, que apagam como que magicamente o passado próximo, parecem responder com um voto positivo à palavra enfeitiçada “diálogo”, que Sócrates utiliza repetidamente nos seus mais recentes discursos, de modo pouco disfarçado.

Estejam as suas artimanhas e estratagemas de acordo ou não com as regras do jogo, sejam ou não dignos e honestos para com o público que o acompanha, apesar de tudo é nele que as audiências apostam. É no risco que está a emoção.

O Obama e o Super-Homem que se cuidem que este programa não é para heróis.

No próximo episódio de Os Portugueses Preferem os Vilões, a não perder o programa especial “Sócrates versus Cavaco Silva, sobre as prioridades da destruição do País”.

Fica a antevisão (com imagens do confessionário):
Sócrates – É importante apagar o passado da mente dos portugueses e ocultar a realidade em que se encontram, para continuar à frente. Se o programa é de entretenimento, vou dar-lhes promessas de modernização da economia e da sociedade, como forma de combater a crise, quando…na verdade, quero mesmo é brincar aos comboios rápidos e às construções. Este País agora é meu, é meu! E se eu quiser ele vai ao fundo, como os submarinos do Paulo Portas.
Cavaco Silva – Se o menino Sócrates não se comportar, eu ainda demito o governo e salvo o País das suas brincadeiras, deitando abaixo o conceito deste programa. Ele não ouve os mais velhos e um dia vai ser castigado por não fazer aquilo que eu mando. Cachopo!

(Nota da Produção: A relação dos nomes dos personagens em jogo, adoptadas pelos concorrentes, com quaisquer pessoas conhecidas do "mundo real" é pura coincidência pois, para bem da nossa saúde mental, esse "mundo" não existe. Alerta a pessoas sensíveis. Este programa pode conter linguagem ou imagens consideradas chocantes)

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Cena X



Renata, nove anos, olhos verdes, sardas caprichosas e de nariz arrebitado, pareceria uma boneca de porcelana no vestido demasiado arranjado que a sua mãe lhe escolhera essa manhã, não fossem as cores vivas do seu rosto e o brilho forte no seu olhar.
Sempre agitada, olha atenta e impacientemente lá para fora.
Está um dia bonito de Outono, que reflecte uma gestação plácida da estação que prepara e que cumpre com o dever de acontecer.
“Sabes, hoje vai chover.”
A menina roda no vestido e tenta meter conversa com a irmã mais velha, que não lhe presta a atenção habitual dos outros dias.
Mas ela não responde.
“Maria!”, reclama alto.
Com longos cabelos escuros a cobrir grande parte de um rosto arredondado, estes não roubam a beleza da jovem sentada no sofá vermelho escuro ao centro da sala. Mas escondem as sardas que sublinham, como na irmã, um olhar profundo esverdeado… mais fechado, no entanto, que o da menina incauta pendurada à janela.
Não se vê qualquer balanço da cabeça quando Maria, segurando firmemente o livro que teima em ler, murmura baixinho para o chão à sua frente:
“Sim, parece que vai.”
Foi uma resposta mecânica e ausente. E Renata não se dá por satisfeita.
“Não te incomoda, ficar o dia inteiro em casa?”, insiste.
“Se estivesse sol, fazia alguma diferença?”
Maria espreita rapidamente por cima do livro, para se esconder, logo em seguida, nas trezentas páginas que parecem não avançar sobre os seus dedos…pousados com uma força despercebida sobre as extremidades das folhas, como pedras de uma qualquer estátua solitária num jardim.
Mas a menina continua a resmungar:
“Podíamos ir para o pátio se estivesse sol!”
No mesmo tom indiferente, a resposta é a mesma:
“Ainda assim ficava em casa. Ou achas que…”
Desta vez, Maria hesita por um instante. A sua boca entreaberta, permanece sem respirar.
Renata aguarda...
…mas não ouve mais palavras.
Terminando a frase num suspiro, Maria opta novamente pelo silêncio. As palavras que não disse não lhe pertencem, soam-lhe a falso mesmo antes de expressá-las. Agora que perdeu todo o sentido da verdade, decide retomar a leitura do primeiro parágrafo, que ainda não leu.
“Parecemos prisioneiras cá dentro. Só que estamos inocentes!”
“Renata, se quiseres podes ir. Eu fico até ao final do castigo.”
“Não. Isso não! Eu prometi.”
Atirando-se prontamente para o sofá, Renata cruza os braços em sinal de espera: “Só saio quando saíres também”.
Segundos depois, a menina percebe que não tem nenhum livro, para fingir que lê como a Maria, nem nada com que se entreter naquele espaço escuro, só com um candeeiro iluminado. Percebe que o cruzar de braços não é um acto para demoras.
“Pronto, não digo mais nada”, tinha acrescentado minutos antes. Mas não cumpre:
“Já sei!” grita eufórica. “Queres ir dançar?”
De um salto do sofá, voa para o meio da sala, e admira-se com o facto de a ideia não lhe ter surgido mais depressa. Os seus olhos brilham ainda mais reflexos.
Olhando directamente para a irmã, Maria sorri desarmada e marca o livro para fechar.
“Ok, posso ajudar-te. Mas hoje não me apetece.”
“Está bem. Está bem!”, apressa-se Renata. “Vamos rápido para o salão”.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Poema do silêncio

José Régio


Sim, foi por mim que gritei.
Declamei,
Atirei frases em volta.
Cego de angústia e de revolta.

Foi em meu nome que fiz,
A carvão, a sangue, a giz,
Sátiras e epigramas nas paredes
Que não vi serem necessárias e vós vedes.

Foi quando compreendi
Que nada me dariam do infinito que pedi,
-Que ergui mais alto o meu grito
E pedi mais infinito!

Eu, o meu eu rico de baixas e grandezas,
Eis a razão das épi trági-cómicas empresas
Que, sem rumo,
Levantei com sarcasmo, sonho, fumo...

O que buscava
Era, como qualquer, ter o que desejava.
Febres de Mais. ânsias de Altura e Abismo,
Tinham raízes banalíssimas de egoísmo.

Que só por me ser vedado
Sair deste meu ser formal e condenado,
Erigi contra os céus o meu imenso Engano
De tentar o ultra-humano, eu que sou tão humano!

Senhor meu Deus em que não creio!
Nu a teus pés, abro o meu seio
Procurei fugir de mim,
Mas sei que sou meu exclusivo fim.

Sofro, assim, pelo que sou,
Sofro por este chão que aos pés se me pegou,
Sofro por não poder fugir.
Sofro por ter prazer em me acusar e me exibir!

Senhor meu Deus em que não creio, porque és minha criação!
(Deus, para mim, sou eu chegado à perfeição...)
Senhor dá-me o poder de estar calado,
Quieto, maniatado, iluminado.

Se os gestos e as palavras que sonhei,
Nunca os usei nem usarei,
Se nada do que levo a efeito vale,
Que eu me não mova! que eu não fale!

Ah! também sei que, trabalhando só por mim,
Era por um de nós. E assim,
Neste meu vão assalto a nem sei que felicidade,
Lutava um homem pela humanidade.

Mas o meu sonho megalómano é maior
Do que a própria imensa dor
De compreender como é egoísta
A minha máxima conquista...

Senhor! que nunca mais meus versos ávidos e impuros
Me rasguem! e meus lábios cerrarão como dois muros,
E o meu Silêncio, como incenso, atingir-te-á,
E sobre mim de novo descerá...

Sim, descerá da tua mão compadecida,
Meu Deus em que não creio! e porá fim à minha vida.
E uma terra sem flor e uma pedra sem nome
Saciarão a minha fome.

Jardins suspensos do silêncio



Dois meses sem escrever no blogue!
Em retiro profundo, arrisco acabar a tese que tento sustentar teimosamente, partindo de pensamentos vagos e instintivos, apenas apoiados por pequenos talos de alguns teóricos fantasiosos.
Não que a sua teoria não pareça brotar sentido, tal como as associações que planto na minha mente caprichosa, também me parecem verdadeiras.
A questão está mesmo nesse “parecer”.
Quando nos agarramos a um objecto de estudo subjectivo, sem uma concretude material que lhe dê forma, o seu “sentido” não passa de uma sensação…e a sua “verdade” de uma aparência.
Na criação do meu jardim suspenso descubro, assim, o quanto as palavras são vertiginosas, pela ambiguidade e indecisão que carregam no seu interior. Perco o equilíbrio e aterro na areia movediça, que me engole até ao nariz, para me impedir de falar e me limitar à observação do mundo.
Fico em silêncio.
E, neste estado, apuro outras valências importantes: tudo fica mais claro e evidente.
Mas por breves momentos apenas.
Pois o silêncio é impossível...
Sim, ele não existe.
As frases que se formam no meu pensamento, involuntariamente, fazem barulho.
Distraem e confundem.
A minha voz não se cala, mesmo com a boca tapada.
A minha escrita não se acalma, estando com as mãos soterradas na areia.
O que é que é o silêncio afinal??
Será que o silêncio é quando se ouve apenas o bater do coração?
Então não é silêncio.
Silêncio é estarmos connosco.
Por isso, nos parece sentirmo-lo e nos parece verdadeiro.
Parece.
Mas não é silencioso.

Utilizo-o da mesma forma:
Na justificação do meu retiro, uso Mahatma Gandhi “O único tirano que eu aceito neste mundo é a silenciosa voz interior” (antes fosse, a minha não é).
Na persecução da tese, uso Paulo Valéry “Cada gota de silêncio é a oportunidade para que um fruto venha a amadurecer” (pois o meu ainda está verde).
Na defesa deste blogue, uso William James “O exercício do silêncio é tão importante quanto a prática da palavra” (às vezes pode ser mais).
Na sublimação do próprio silêncio, uso Charles Chaplin “O som aniquila a grande beleza do silêncio” (mas existem sons que são tão perfeitos).
E contra mim própria, uso Francis Bancon “O silêncio é a virtude dos imbecis” (idiota parece-me menos mau).
Mas porque continuo a achar que é inalcançável, excepto talvez na parte final - conforme as célebres últimas palavras de Hamlet, de Shakespeare “…the rest is silence” – acredito, ainda assim, na sua paz e deixo por isso, no próximo post, um poema de José Régio.

De olhos mais abertos II

sábado, 23 de maio de 2009

Lágrimas de Crocodilo


Não sou insensível. Sinto de uma forma diferente.
Não sou expectável. Sorrio e choro ao mesmo tempo.

Porque é que tentam decifrar o sentimento pela quantidade de lágrimas que choramos?
Porque que é pensam chegar cá dentro, quando nós próprios não chegamos?

Por vezes, um sorriso cria uma barreira protectora.
A felicidade como o crocodilo, por vezes, também chora.


Se as lágrimas nos libertam, quem me dera a mim chorar,
Deixar de sentir o seu peso, vencer esta apatia
Que, de uma forma seca...me afoga!!!

Largar esta pele, rija e fria,
Concordar que "noite é noite, e dia é dia",
Quebrar o conflito entre a alegria e a dor.
Mostrar-me para os outros mais simples,
Sentir-me por dentro uma pessoa melhor!

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Every second counts




Detive-me sobre a ideia de escrever acerca de um filme que vi esta semana, e que já há algum tempo andava para ver, Cashback, do realizador Sean Ellis: um tema leve mas com substância.
Através dos olhos de um estudante de belas artes, cujo desgosto amoroso lhe rouba a capacidade de dormir, e que resolve candidatar-se ao turno da noite num supermercado local, entramos num mundo plástico de contornos e cores definidas, que o protagonista molda, através da solidificação do tempo, em quadros vivos e sensuais.
Um mundo despido de preconceitos, com nus artísticos reveladores do magnetismo exercido pelo corpo feminino, símbolo ele próprio da criação. E uma atracção/perseguição de imagens perfeitas, ciente que a perfeição não se regula por medidas especiais, mas que se encontra no pormenor das imagens mais simples diárias, desde que se preste a devida atenção.
Podem ocorrer a qualquer altura, estes momentos de clarivisão.
Não podemos prendê-los com a mesma facilidade com que o filme prolonga a frame no ecrã, mas podemos recriá-los na mente, juntar-lhes valor.
Every second counts”. Resume tanta coisa.
E cada um com o seu peso: alguns com pouco, outros que exercem uma força esmagadora sobre a linha da vida, desviando-a do seu curso rectilíneo aparentemente normal. São esses segundos que impulsionam, botam para a frente, são movimento e não deixam o nosso relógio parar.
O que é que vais fazer com os teus?
Será que os consegues controlar?
TIC TAC TIC...

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Viagem

Sentes a minha mão?
Está fria.
Não a sentes?
Sentes a minha mão?
Nem eu.
De tão fria que ela está.
Olha como fica roxa!
É uma cor bonita, não é?
Não?
Achas que não?!
Eu achava...
Acho.
Sim. Acho que sim.
Bolas. Está a ficar escuro.
Onde é que foste?
Já não te vejo.
Nem vejo a mão!
Já não te sinto.
Sinto-me estranha.
Sinto-me…
Para onde é que foste?
Porque é que não esperaste??
Eu sinto-me leve. A flutuar.
Lembras-te daquela vez que fumámos…
Parecia um aquário.
Parecia...
Onde é que estás?!
Para onde é que foste?!
Eu estou tão longe.
Tão leve. Tão…
Não.
Já não é isso.
Qual era a cor?
Eu já não sinto.
Já não me sinto da mesma maneira.
Que felicidade!!!!!!
Eu já não sinto!
Não sinto!
Só felicidade!!!
Lembro-me de ti, do J., da A., do L…
Mas não tenho mais saudades.

Momentos IV



Ice dance - Danny Elfmann, from the film "Edward Scissorhands" - Tim Burton, 1990

terça-feira, 5 de maio de 2009

Don't worry baby

Porque hoje o meu mundo deu uma volta, daquelas em que o estômago e o coração parecem saltar...Porque a vida é feita de laços e rupturas, e não podemos fazer nada para o evitar...
Aquilo que perdi hoje, só me vai dar forças para procurar no futuro algo melhor.
E o melhor existe!
Nós é que temos uma capacidade estúpida para só alcançar a curta visão. Acomodamo-nos na ideia do que há de pior, e seguramo-nos com força à posição de conforto comodista a que nos habituámos. Sem querer, criamos uma relação sentimental com esse lugar, com as pessoas que o habitam, e afastamo-nos cada vez mais da nossa natureza nómada, inconformista...perdemos alcance...a visão global do mundo incógnito à nossa espera!
Porque hoje perdi o meu emprego mas ganhei uma nova liberdade...
A liberdade de poder escolher ser quem sou, de me descobrir na aventura de outros lugares, de perceber que os amigos não se procuram num mesmo espaço, mas podemos sempre encontrá-los nos intervalos entre a distância.
Hoje esta música é para mim.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Enciclopédia da Mulher


Eva Gabor, from the "Green Acres" series (1971)

Há umas semanas o meu avô entregou-me a guarda de uma enciclopédia que pertencia à minha avó Dora. Por aquele gesto inesperado senti-me radiante, pela oportunidade de desvendar, por entre centenas de páginas poeirentas, novas lembranças da minha avó.
Chamava-se Heliodora.
Nome imponente e majestoso que a definiu pela mulher que foi, mãe de família, dona de casa, estudiosa e trabalhadora: uma senhora moderna e respeitada, que teve algumas tristezas sem as merecer. Para mim, quando era pequena, era a minha avó Dindora…e mais tarde Dora ficou, pois era doce para todas as netas e servia-nos romãs cobertas de açúcar.
Estas lembranças que descobri...não são obviamente lembranças de momentos em conjunto mas, de forma mágica, foi como se em cada página que li a encontrasse, no rasto da mesma leitura que um dia fez. Como se pelas frases me apoderasse do seu sentido e as linhas que antes lhe pertenciam me guiassem, ao som da sua voz.
Embora com algumas ideias desajustadas em relação à posição feminina do presente (verdadeiras relíquias que hoje só mesmo guardadas no armário de vidros da sala, para serem apreciadas com um respeito pelo passado, bem disposto por já não ser) a Enciclopédia da Mulher está recheada de preciosidades, com dicas actuais para qualquer mulher independente, que vão da beleza à decoração. Muito aprendi, e continuo a aprender, com a minha avozinha: a fazer a letra bonita, a meter creme nas mãos, pois envelhecem mais depressa…Continuas a ser um modelo que quero seguir!
De repente, ao passear perdida por entre as páginas, enrolam-se-me os cabelos com rolos coloridos, visto a saia de fazenda pelo joelho, os brincos pérola nas orelhas, e transformo-me numa Senhora daquela época.

sábado, 18 de abril de 2009

Sinais de vida



Dia 11 de Abril Susan Boyle brilhou para o mundo, com a sua aparição no programa televisivo Britain’s got talent, interpretando I dreamed a dream da banda sonora do filme Les Miserables. Já milhares de pessoas assistiram ao momento de choque, em que Susan surpreendeu o público céptico que aguardava a sua demonstração.
Nunca achei grande piada a estes programas, e acredito que, não só na música mas noutras artes, existem mais talentos no grande mundo do que as pessoas consideram: ou porque se fecham, reservados, ou porque não lhes foi dado crédito, pelos outros ou pelo próprio.
Por isso não foi só esta descoberta, a que temos o prazer de ter acesso, que me fez abrir excepção. Mas cabeceio insistentemente na alegria que sinto ao tirar exemplo da recompensa de uma grande força de vontade, que nos faz lutar por nós. Grande Susan. E mais ainda, nos pormenores dos sentimentos fortes, inesperados, quando somos atingidos violentamente por uma força que nos toca. Atentem nas evidências físicas do vídeo: a “maçã de Adão” que sobe e desce, suspiros profundos, sorrisos sinceros, lágrimas nos olhos...são esses pequenos sinais que cicatrizam os valores da vida nos acontecimentos importantes…quando nos apaixonamos, nos comovemos…são estes pequenos sinais! Grande Susan, grande música, e grande chapada para quem duvidou!

Radiografia de mim



Ao analisar o meu blog retrospectivamente tracei um perfil de mim própria: romântico-pateta, sonhadora-ingénua, divagante-chata.
Bah, que retrato enfadonho. Falta-me um pouco de pimenta!
Ainda bem que existem as outras perspectivas da câmara. Aquilo que se vê de frente não é verdade, porque esconde tudo o resto, nega o ser...e só nos mente. A radiografia é também um disparate pois, como a psicologia, procura no interior e revela as sombras na obra de arte - admite-as, o que é um bom princípio, mas ainda que se esforce não faz delas o sentido.
E eu sou assim, um pouco de branco e de preto, de luz e confusão...
E continuo feita parva, à procura de uma forma que me defina...Estico os dedos...e começo pela mão...

terça-feira, 14 de abril de 2009

Uma árvore no pulmão



Hoje, quando sentada em frente ao computador tentava fazer delete de mais alguns momentos extenuantes que vivi no meu trabalho, encontrei algures esta noticia http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Mundo/Interior.aspx?content_id=1200940 que me deu azo para divertidas considerações.
Ao que parece foi encontrada dentro do pulmão de um paciente, que operavam por suspeita de cancro nos pulmões, na Rússia, uma pequena árvore em crescimento.
Artyom Sidorkin, de 28 anos, era o feliz portador de um abeto vigoroso, qual jardim interior ou reserva natural de beleza incomparável, não fossem as dores no peito e a tosse persistente causadas pelo abusado invasor.
Se as árvores são para as cidades os seus pulmões, os pulmões são para as árvores as suas cidades prometidas. De estrutura esponjosa e confortável, com uma temperatura húmida mas agradável, o órgão elástico, profissional da hematose no corpo humano, terá com certeza acolhido no seu seio, com as melhores condições possíveis, e comprovadas, a semente que timidamente se infiltrou via nasal rumo ao berço de gestação.
Life finds its way. Ou, direi mais:Life Works in strange ways.
Quando aquilo que nos dá vida, também nos pode levar à morte…chegamos à conclusão que o mundo é realmente feito de contra-sensos, ressalvas e excepções, “mas” e “sess”, descobertas e incógnitas.
Verdadeira ou falsa, quando a própria imagem da notícia levanta dúvidas a quem não é especialista, lanço-te mesmo assim um Avé Ó Grande Universo. Mais uma vez fizeste-me sorrir.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

De olhos mais abertos I

A propósito de um filme que vi recentemente, mas também porque existe tanta beleza no mundo que muitas vezes é descurada (para me restringir a um espaço mais possível)... Resolvi andar "de olhos mais abertos"! (engraçada esta expressão, depois da minha consulta de oftalmogia de ontem...mas isso é uma outra história)
Depois de ter introduzido impulsivamente no meu blog a rubrica "Momentos", chegou a altura de me perder em novas buscas por um novo tema. "De olhos mais abertos" poderia nem vir a existir se eu tivesse dado ouvidos à outra M., que diz que as rubricas são uma forma preguiçosa de postar clichés, e que massa os restantes leitores. Eeeeeeeeeee????
Este blog é meu! Este blog sou eu!
Genuinamente tontinha...
...excessiva.
Aceitem-no ou não.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Dia das mentiras, ou Dia das verdades?



Diz 1 de Abril é conhecido como o Dia das Mentiras. Sabe bem pregar algumas partidas sem que ninguém nos leve a mal!
E porque é que não levam?!
Porque no final do dia acabamos sempre por revelar a verdade, para que nos possamos rir em conjunto, da ingenuidade daqueles que se deixaram levar.
São brincadeiras inocentes, que nos libertam do complexo de criança-pinóquio, que impunha que "mentir é feio!".
Mas eu prefiro antes chamar-lhe o Dia das Verdades, porque neste dia toda a mentira nos é facilmente revelada...à parte daquelas que já existiam, está claro!
Pior são mesmo os outros 364 dias, em que a segurança da verdade não existe, porque a cara de gozo é virada para dentro, enquanto que o rosto visível nos mente com uma tranquilidade fácil.
São anos de treino suado, que poderiam justificar em muitos bons casos a atribuição de um Óscar!
É que quando finalmente se reconhece o mérito ao seu autor, pela mentira descoberta, o gozo é maior por parte de quem foi primeiro enganado, do que o da aranha profissional.
É injusto que não se possa recompensar o trabalho árduo do homem que se dedicou anos a fio a tecer fábulas e historietas, que só se desfizeram porque o lobo apareceu. Deve sentir-se realmente subvalorizado, e arrepender-se por não ter escolhido uma outra profissão, onde a sua imaginação e empenho fossem uma mais valia...escritor, actor, cineasta, palhaço!
Bem, mas como tudo, em que nada é garantido como certo ou errado, ainda continuam a existir algumas mentiras apreciadas, chamadas "as mentiras piedosas", que aliviam tensões e outros males de raiz.
Já dizia quem sabe, "with a spoon full of sugar, helps the medicine go down...the medicine go downnnn...the medicine go down." Pois é...é isso ou apertar o nariz!

terça-feira, 31 de março de 2009

Momentos III



"Moon River" - Henry Manciny, from the film "Breakfast at Tiffany's" - Blake Edwards (1961), sang by Audrey Hepburn
Hesitei.
Mas quando não se tem mais nada para dizer do que um grito sonoro, vindo do fundo de um remoinho de pânico, que nos engole, sedento de almas frágeis, que perdem ao jogo do tempo...
E quando nos abrigamos, cobardes, no hipnotismo de uma cena que revemos mais de dez vezes ao dia... Como se ao revê-la pudéssemos criar um refúgio à parte da nossa mente agitada, com tanto que vê por fazer...
Parece-me que essa cena marca mais um Momento. Que deve ser ultrapassado, para que possa arregaçar mangas e continuar a trabalhar.
O tempo ainda não me venceu.
E os momentos, devem estar lá para ser recordados, não para nos aprisionarem a nós, como desculpa, para desistirmos de completar as coisas que fazem sentido.
Entrego-o por isso no próximo post, um pouco antes do previsto, mas tão presente que não o posso ignorar.
Talvez assim me liberte da sua beleza simples, quase perfeita, para seguir em frente e tomar finalmente conta do meu próprio futuro enquanto é hora...Um momento Hepburn, sem dúvida.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Momentos II



From the film "Dead Poets Society" - Peter Weir, 1989

sábado, 21 de março de 2009

Oh lala! Le Printemps est'arrive!!




Estava eu na Primavera da vida, menina sorridente e colorida, vestia um pijama cor de rosa, com uma frase que não conseguia entender "Oh lala! Le Printemps est'arrive!":
- Mãmã o que é que quer dizer??
- Quer dizer que a Primavera já chegou.
E eu sorria, sem saber porquê. A simples audição destas palavras transmitia uma boa sensação.
A Primavera é a estação da esperança, da fertilidade, do crescimento...a melhor estação da vida!! Depois vivemos o Verão da adolescência, amadurecemos, atingimos o nosso ponto ideal já em adultos, até que o tempo assume o seu controlo, e começamos lentamente a regressão para voltarmos à terra, transitando pelas duas estações finais. Não deixam de ser estações belíssimas, o Outono e o Inverno, mas de uma forma distinta, pintados em tons mais secos e sombrios, em que estamos cientes de todo um ciclo, com memória de uma fantasia mais objectiva.
Dia 21 de Março, primeiro dia da Primavera (e da Poesia também), sentia-se uma brisa gelada...mas não passou ao lado:

From you have I been absent in the spring
When proud-pied April, dress’d in all his trim,
Hath put a spirit of youth in every thing,
That heavy Saturn laugh’d and leap’d with him.
Yet nor the lays of birds, nor the sweet smell
Of different flowers in odour and in hue,
Could make me any summer’s story tell,
Or from their proud lap pluck them where they grew:
Nor did I wonder at the lily’s white,
Nor praise the deep vermilion in the rose;
They were but sweet, but figures of delight,
Drawn after you, you pattern of all those.
Yet seem’d it winter still, and you away,
As with your shadow I with these did play.


Shakespeare, 1609

terça-feira, 17 de março de 2009

Olha, olha...VAI MAS É FAZER A TESE!!!!!!!!!

"Love YOU Tender", MY PIANO



Mais de 500 objectos pessoais do cantor Elvis Presley vão ser leiloados na Internet, em gottahaverockandroll.com.
Só queria um! Aquele da foto!!!
Grande! Majestoso!! Imponente!! Com tanta história!!!
A licitação, ao que parece, começa nos 500 mil dólares (cerca de 385 mil euros).
Porque não?
Talvez peça algum dinheiro emprestado à Rainha Rania da Jordânia, aproveitando a sua passagem por Portugal.
Ou um parecido!
Que provoque o mesmo efeito, que a imagem recordou…

Piano, de teclas pesadas e sensíveis, transportam consigo em grandes escalas, sentimentos graves ou agudos, a alta ou média voz
Teclas brancas e pretas alinhadas, resumem a vida de uma assentada, formando acordes de cores intensas, que abrem o peito como garras, reclamam o toque dos dedos que as marcam, com a sua impressão
Soltem-se os espíritos, melodias endiabradas, das madeiras perfumadas, do corajoso que se entrega, a sua alma já vai solta, quando o corpo se concentra, absorto, de outro mundo mais real


Saudades!!! Medo de esquecer o que aprendi!! Não quero aprender mais...Trata-se agora de uma nova descoberta, metódica, mas sem pressões. Livre para me relacionar com o objecto de uma forma mais inteira e pessoal.

terça-feira, 3 de março de 2009

Happiness com "I" e não com "Y"



“The Pursuit of HappYness” (2006), filme de Gabriele Muccino, que só ontem tive oportunidade de ver, não podia estar mais perto de tantos dramas reais que conhecemos actualmente no nosso País, como da fase que eu mesma atravesso.
Não estou deprimida.
Às vezes.
Sinceramente não! Não desisti da felicidade.
Identifico aqueles sentimentos confusos, e uma ansiedade desmedida que me aperta o peito e pressiona para fazer as escolhas acertadas, numa altura em que parecem poder decidir qual o futuro...omnipresentes e omnipotentes.
No fundo não acredito nisso.
O que é feito do cosmos?!
O filme é baseado na história verídica de Chris Gardner, desempregado aos trinta anos de idade e que vivia com o filho numa casa-de-banho publica de São Francisco, até ao dia que decidiu ser corrector de bolsa. Esforçou-se, por meio de estágios e pequenos empregos, e aos poucos criou a sua própria empresa de
especulação financeira e investimentos, enriquecendo.
Tendo sido apontado como previsível, lamechas, e de revitalizar o modelo de fábula social sobre o "Sonho Americano" à maneira clássica de Frank Capra, “The Pursuit of HappYness” na minha opinião diz muito mais do que isso.
O filme reanima a perseguição dos sonhos, a perseverança séria, o acreditarmos em nós próprios, e munirmo-nos da nossa força interior, quando todas as outras forças se reúnem contra nós.
E muito embora sejam lemas conhecidos, a roçar sonhos idealísticos em que, tal como no filme, tudo acaba bem, quando na realidade a desilusão é por vezes quem ganha, é no pormenor dos seus diálogos que o filme se mostra realmente sábio, jogando com uma simplicidade credível. E a ver.
“The Pursuit of HappYness” não é mágico, nem extraordinário, admito, mas já há algum tempo que aprendi que o futuro não deve ser sobrevalorizado pois, se com a mente nos esforçarmos por ver um presente melhor, ainda que partindo de um cenário negro, pode ser que as cores realmente apareçam, e os dinossauros deixem finalmente de meter medo (just for watchers).
Will Smith, no papel de Gardner, cita no filme Thomas Jefferson na Declaração da Independência: “him saying that we have the right to life, liberty, and the pursuit of happiness. And I thought about how he knew to put the 'pursuit' in there, like no one can actually have happiness. We can only pursue it.” Pois eu acredito nela!
Não como algo constante. Mas como uma camada de lava, que por vezes está adormecida, submersa...não a vemos, mas não deixa de estar presente, mesmo nas piores alturas se conseguirmos sentir o seu calor. E quando finalmente a deixamos emergir, brota numa erupção incandescente, cheia de cor, escorrendo lágrimas de felicidade! “Happiness com "I" e não com "Y".”

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Foi mais ou menos assim...


"Prophesy", Nitin Sawhney

Ontem à noite o Coliseu estava lindo! E é com muita pena minha que, por enquanto, só guardo na memória as imagens vivas de todas as outras músicas, que me embalaram por breves momentos, uma vez que tive o desplante de chegar atrasada ao concerto!!!! Soube-me a pouco! Mas o pouco soube-me a muito!!! Foi como uma pequena alucinação, que nos faz vibrar de dentro, ao som dos batucos e da guitarra que nos narra uma história multicultural. Guardo especialmente o quadro final, com "Homelands" em grande plano, as vozes unidas em cada palavra...o calor da canção, que lamento não poder aqui mostrar.

"Tudo o que quiser
Tem que entender
Nas palmas da mão
Se tiver porquê
Frágil nessa terra
Fácil derrubou
Quando jogou fora
Tudo acabou..."

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Di'algo estranho


"Dreamweaving", Klimt

- Olá! Posso contar-te um segredo?
- Diz! Diz!
- Aqui há uns tempos, queria nadar toda nua num riacho, ladeado de flores coloridas e com peixes dourados, queria acender uma fogueira e contemplar as estrelas à noite, pedir-lhes um desejo, vê-las piscar, adormecer na sua luz, e sonhar com o dia seguinte, com cores ainda mais vivas do que o anterior.
-Isso parece-me muito bom.
-Sim parece. Mas o pior é agora.
- Agora?
- Agora, tenho medo de me afogar, em águas turvas e profundas, que a chuva apague o lume que acendi, e que rebente uma forte trovoada, numa tempestade abissal! De fechar os olhos e ficar no escuro. Não sei se virá o amanhã.
- Porque é que dizes isso?!
- Porque cresci.
- Cresceste?
- Sim. Já faço a depilação!
- E então? O mundo… Esse mundo mudou contigo?
- Não. Eu é que mudei como os outros. E vi-os finalmente diferentes.
- Não somos iguais, tu e eu?
- Tu não. Fazes-me rir. E não percebes o segredo que todos escondemos.
- O segredo?
- Da transformação. Das coisas. Mais cinzentas! Mais tristes!
- Mas também tenho pêlos como tu.
- Talvez sejas especial...
- Olha M., podes fechar os olhos sem medo...Eu deixo-te a porta do quarto aberta, com a luz acessa lá fora. Como quando eras pequenina. Só tens de encontrar o caminho, se quiseres vir ter comigo. Até amanhã...Dorme bem! E acorda depressa!
- Obrigada! Agora já me começo a recordar.... Até amanhã!!!!!!!!! (Já não soa assim tão estranho)

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Nini

Makes me wonder why it hurts so much
If she’s still in a sight view
Makes me wonder why such pain inside
If down deeply, I already knew

Now, as all stars had become together,
The tree sisters lighten their lovers
In a committed forever

Blinking all night
They leave a message of peace:
We will see you in life,
with a greater view
…at least!


So I look up to the sky
And smile at them in response:

I’ll keep living in happiness,
with all strengths that I can!
Thanking every day
that I’ve found you
in the sky
…once again!

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Momentos I



Sinfonia No.9 dal Nuovo Mondo - Dvorak, from the film "Paradise Road" - Bruce Beresford 1997

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Vicky Cristina Barcelona... Juan e Maria?!




Vicky Cristina Barcelona, o novo filme de Woody Allen, prendeu!
Eis os meus (imediatos, mas foscos perante a obra global) argumentos!

Um filme sobre duas turistas norte americanas (Scarlet Johansson e Rebecca Hall) e dois artistas espanhóis (Javier Bardem e Penélope Cruz), que se envolvem durante umas férias de dois meses em Espanha...quase eternos, pois que se prolongam para lá do tempo, em novas descobertas e emoções. Sentimentos confusos, fortes, impulsivos e esmagadores!

Um filme que, para além dos personagens, bem construídas pelos actores, e complexas, como um espelho da própria arquitectura de Gaudi, presente ao longo de toda a história, nos revela uma outra protagonista: a cidade de Barcelona! Algumas das mais fantásticas paisagens, naturais e culturais, deste País vizinho, abrem um apetite voraz por uma nova visita, espero em breve...aos nostros hermanos!

Um filme de verdades e de dilemas, de sonhos e de receios…todo ele humano! Com as questões de sempre, que recoloco insistentemente: Devemo-nos deixar arrebatar por um momento, ainda que este nos transforme, e abale tudo aquilo que já construímos? Ou devemo-nos manter fiéis ao que conhecemos, evitando surpresas, sejam elas boas ou más? O que é que procuramos afinal? Será que algum dia o vamos encontrar?

Todos nos sentimos perdidos a dada altura na vida, sem saber que caminho seguir. A vida não tem, nem nunca vai ter, um sistema de navegação por GPS ligado! Que merda, dava cá um jeitão!
Por isso, a paixão e o amor serão, a meu ver, as grandes forças que nos chibatam: imprevisíveis e movendo-nos em direcções confusas, que talvez só façam sentido no final.

Woody Allen, já autor de tantas obras de referência, que não vou aqui enumerar, fala também das motivações deste filme, em entrevista “Muitas pessoas desejam mais da vida e não sabem exactamente o que é. Elas sabem que têm que haver algo mais na vida, algo mais interessante, mais romântico, mais apaixonante, mais realizador!”.

Pois vou continuar à procura!

O filme acaba e ficamos com a sensação do vinho tinto na boca, humedecendo os nossos lábios, enquanto embalados pela melodia de uma bela guitarra espanhola, à sombra da lua, num terraço qualquer!

Punkifica-te!!

E porque o Zé Pedro, dos Xutos & Pontapés, até é um menino com gosto, programou com perícia e boa escolha um rewind até aos anos 70, época embrionária do movimento punk, através do grande evento “Lisboa Calling”, que irá decorrer a partir desta semana no Musicbox, na capital portuguesa.
Sex Pistols, The Clash e Ramones serão os homenageados, numa festa de cinema e música a não perder.
A minha ideia não será apenas a de fazer propaganda, quer à ocorrência, quer a quaisquer outros ideais (apesar da música que escolho!), mas sim de aproveitar a deixa para curtir uma boa malha!
Convido-vos, assim, a recostarem-se num cadeirão confortável, fecharem os olhos e viajarem no tempo com "Know your rights" dos The Clash...qual sessão terapêutica!
Os pontapés e os moches sabem melhor em massas gigantes e masoquistas, logo, o conforto ocasionalmente admite-se!

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

OBA, um dia de sol, apesar do alerta laranja


Ontem, dia 19 de Janeiro, foi assinalado pelos EUA como o dia de Martin Luther King, Hoje, dia 20, tomou posse o primeiro Presidente afro-americano do País. Oba! Oba!
O que é que pode se pode esperar do homem em que tanta gente no mundo inteiro deposita as suas esperanças, para uma urgente e necessária mudança. Será que a possibilidade existe? Ou iremos retornar aos mesmos erros da nossa história mundial??
É um risco grande que corremos, pois somos mais fracos do que julgamos. Tão fracos, quanto fortes, quando as situações se intensificam! E não há como escapar deste ciclo – destruição/criação em que vivemos.
Não me parece sequer necessário enumerar as milhentas ligações óbvias entre as piores acções já alguma vez tomadas por nossas mãos. Elas estão aí, e assombram!
Mas ainda assim mantemos a esperança...porque assim tem que ser! Porque no ciclo também retornam períodos férteis, e a bonança espreita por detrás de cada tempestade!
Obama escolhe as palavras de Thomas Payne, um dos fundadores do País: "em face dos perigos comuns, neste inverno das nossas dificuldades, vamos lembrar-nos destas palavras intemporais: com esperança e virtude, vamos corajosamente enfrentar as correntes geladas, e aguentar as tempestades que possam vir. Vamos que os filhos dos nossos filhos digam que quando fomos testados nos recusámos a deixar que a viagem acabasse, e que não virámos as costas, e que com os olhos fixos no horizonte e a graça de Deus, avançámos essa grande dádiva de liberdade e entregámo-la, em segurança, para as gerações futuras." Ámen!

Cruzamentos

"Não há beleza rara sem algo de estranho nas proporções", Poe


"Song Angels", William Adolphe Bouguereau

Edgar Allan Põe, nascido a 19 de Janeiro de 1808, faria ontem 200 anos se tivesse personificado, ele próprio, a imortalidade dos seus escritos.
Teve uma vida breve e foi por isso tardiamente reconhecido, num tributo que se deveu a alguns escritores europeus, como Baudelaire ou Pessoa, que ditosamente traduziram as suas obras, muitas de um fundo gótico e negro: simplesmente hipnóticas!
Não será esquecido!
Mais próximo algumas centenas de anos, faleceu também no passado mês, na véspera de Natal, outro grande visionário, Harold Pinter, Nobel da Literatura de 2005, que nos presenteou a todos como herdeiros dos seus poemas e peças de teatro, e que nos comprometemos a preservar para uma idealística eternidade…
Não será esquecido!
E porque os portugueses até são gajos dotados, quando se lhes junta o talento o sonho e a garra num só corpo, não posso esquecer a perda recente de dois elementos essenciais à nossa cultura actual:
João Aguardela, que na música mostrou que ser marinheiro não é fácil e que os portugueses devem ter coragem para enfrentar novos mares e desafios (falecido dia 18 deste mês, com apenas 40 anos), e Teresa Coelho, editora das Publicações D. Quixote, que acreditava, a meu ver, que as ferramentas essenciais de um povo deverão ser o conhecimento e a criatividade aliados (falecida dia 17 deste mês, com ainda tanto por viver)!
Não serão esquecidos!!!
A vida espreme-nos o suco, deitando a casca para o lixo, quando considera que já provou o suficiente e que não temos muito mais para oferecer.
Quem sabe, não teríamos ainda tanta coisa, escondida cá dentro, um poço sem fundo…impossível de beber!

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

E porque me apetece começar assim!


WHEN DID I WAKE INTO THIS DREAM

MY WORLD WOULD NEVER BE THE SAME AGAIN

I DON'T CARE ABOUT TOMORROW




I still put on a vest, with an "S" on my chest

Rodou mais um número, mais um ano que passou.

E as festas que antecedem ao novo ano tendem a perder a luz dos anos anteriores: um Natal um pouco menos dourado, apesar dos enfeites da árvore e do Ferrero Rocher, uma Passagem um pouco menos prateada, apesar da roupa brilhante e da bola de espelho na pista.

Enfim! Abrem-se as prendas de sermos lembrados, comem-se as passas das novas expectativas e…de repente...Tudo ganha uma nova importância!

Movimento é vida! Há que aceitá-lo. O facto de estarmos todos um pouco mais velhos, e complicados, faz parte de uma ordem natural clara. Não devemos combatê-lo. Mas sim usá-lo em nosso proveito. Porque quando tudo o resto parece mudar, permanecemos no nosso âmago os mesmos: corremos sempre atrás dos mesmos sonhos!

Por isso, qual Fénix renascida, assim que batem as panelas, fechamos os olhos e acreditamos piamente numa nova oportunidade.

E ainda bem! Porque no fundo é a mesma…a mesma grande oportunidade: A vida! Mesmo quando julgamos ter perdido a prova, o jogo só acaba realmente no game over final.

Este ano vou avançar sem medos! E com novos desafios para obter a pontuação desejada! Para já tenho com que me entreter: quero voltar a tocar piano, acabar a minha tese, ler muito, sorrir muito, estar com os amigos, com a família e SER QUEM SOU! Uma heroína no meu jogo virtual!!

"As nuvens mudam sempre de posição, mas são sempre nuvens no céu. Assim devemos ser todo dia, mutantes, porém, leais com o que pensamos e sonhamos; lembre-se, tudo se desmancha no ar, menos os pensamentos." (Paulo Baleki)



P.S.- Qualquer semelhança à propaganda de Obama nesta música é pura coincidência.