quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Quando morrer quero ser diamante


Parece surreal, no entanto, algo poético. E parece que já se faz há alguns anos, mas quando recebi na minha caixa de email esta notícia, fiquei realmente abismada. Embora ainda seja bastante caro, talvez a prática venha a dar um novo sentido à expressão "aquela rapariga é uma jóia de pessoa". E não é que o poderá vir mesmo a ser, literalmente, depois de morta?

A metamorfose humana para um objecto inanimado, mas de uma beleza rara e extraordinária. Não soa a poesia?

O oposto do espalhar as cinzas sobre a terra, ou sobre o mar...ao invés de nos entregarmos ao mundo, entregarmo-nos a uma só pessoa, egoísta ou especial.

Podemos passar a ser herança, esgotar a lembrança até sermos só mais um anel.

Ou até vários, um conjunto de jóias, de vários tons e feitios: "Quinhentas gramas de cinzas bastam para fazer um diamante, enquanto o corpo humano deixa uma média de 2,5 a 3 kg depois da cremação", explica Rinaldo Willy, um dos co-fundadores do laboratório, logo cada humano dará cerca de 5 diamantes, para distribuir pela família.

Sem mais comentários, aqui fica o link para quem não acredita: http://www.swissinfo.ch/por/archive.html?siteSect=883&sid=6208251&ty=st.

Blindness


From the film "Blindness", 2008


Embora já tivesse lido o livro de Saramago, agora que já digeri também o filme de Meirelles que fui ver esta semana, não posso deixar de aqui referenciá-lo. Por falar em digestão, não quero eu dizer que esta demora no processo da sua absorção se deva a algum mal-estar físico que o filme me tenha causado, embora seja sem dúvida um filme forte. Mas eu gostei muito de vê-lo! “Blindness” fez jus às metáforas e aos sentimentos que o “Ensaio sobre a Cegueira” do nosso escritor-nobel português já me havia despertado.

O único livro de Saramago que li completo até à data, quando alguns outros ficaram pendurados a meio. Não podia deixar de lhe prestar justa homenagem na sua passagem para o grande ecrã.

Fernando Meirelles, reconhecido pelos seus filmes “A cidade de Deus” e “O fiel jardineiro”, tal como o esperado, conseguiu a meu ver interpretar de forma quase perfeita o imaginário de Saramago. Se é que isto se pode afirmar.

Mas terá sido o próprio autor do livro original, durante uma conferência de imprensa conjunta com o realizador, quem afirmou que o filme lhe agradou “em todos os aspectos” e que se emocionou algumas vezes durante a passagem do mesmo. Para mim bastava olhar para o seu rosto no final da estreia do filme, imagens que têm andado a circular pelo mundo net, para perceber o seu índice de concretização pessoal. Naquele momento Saramago foi aos céus, e voltou fiel à vida.

Quanto ao filme, numa narrativa em que não chegamos a saber o nome de nenhuma das personagens, mas em que o anonimato lhes abre, no entanto, um lugar bem marcado na história, confrontamo-nos, mais uma vez, com questões do nosso tempo, que não nos facilitam uma resposta, mas nos incentivam a despertar para a sua existência mais profunda.
O colapso urbano e a complexidade da natureza humana, perante uma situação catastrófica e dramática, vão gerindo o balanço entre a ordem e o caos, entre a quietude e a agonia…que fui obrigada a digerir, com receio de sufocar.

E mergulhamos, ao vê-lo, nessa terapia conjunta: dolorosa é certo, pela brutalidade das imagens presentes (e paralelas); mas libertadora e alucinante, através de um trabalho de cinema plástico incrível, dos enquadramentos, dos flashes de luz branca, e dos reflexos pontuais, escolhidos de forma cuidada e séria, para não subverter as expectativas de todos os que já leram, e também visualizaram à sua maneira, o livro do escritor-nobel lusitano.

Em sintonia com Meirelles, os contributos de todos os outros envolvidos no projecto de “Blindness” foram preciosos, e não podem aqui ser negligenciados: Don Mckellar, na produção do argumento, César Charlone, na fotografia, e Marco António Guimarães, na brilhante banda sonora, entre outros.

Será também interessante, para quem tiver curiosidade, ler no blog do cineasta as dificuldades e tensões da etapa da montagem, em http://blogdeblindness.blogspot.com.

Para quem ainda não viu o filme, ou leu o livro, fica a minha recomendação. (Vale o que vale)

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Vícios sérios


Estou víciada numa série. Depois de outras, esta especialmente surpreendeu-me.
Californication é uma série que explora, de forma mais ou menos abusada, os laços da carne, mas também, a meu ver, os laços da alma, nas páginas escritas de um livro, escrito ao ritmo alucinante e quente da Califórnia, e tendo David Duchovny (antigo Xfile) no lugar do protagonista.

Porque é que uma série como esta me vícia, de querer ver os episódios todos, todas as noites, noites e noites seguidas sem parar? Intrigou-me!

Uma série que se enquadra perfeita nos preconceitos da promiscuidade, da crueza das imagens, da luxúria, e cujo “sexo”, formal ou informal, é um dos temas principais...como não me aborrece?

De onde vem este interesse, que numa qualquer semelhante conversa entre rapazes gabarolas, das suas trapezias mais imaginativas que reais, me entediaria à primeira frase?

São naturalizadas na série todas as práticas sexuais, de tal forma, que sem querer o olho se habitua, após “comédializar” as situações que mais se distanciam da nossa rotina frequente. Mas não de uma forma irritante e imatura. De uma forma genuína e seminal, que volta a colocar-nos numa linha da exploração animalesca dos nossos mais íntimos desejos carnais.

Ao mesmo tempo que chocam, estas imagens naturalizam-se pois, após as primeiras impressões da série, começamos a colher nas veias do enredo a corrente de outras características mais “espirituais”, apresentadas a partir das personagens da história, e que nos acrescentam a nós, como seres humanos, uma essência mais profunda.

Descobrimos que pode coexistir, no mesmo ser, um lado primitivo e bestial, com um outro lado mais sensível e complexo. E sentimo-nos bem com isso. Sem falsos moralismos ou quaisquer moralismos sequer.

E cresce assim, progressivamente, um vício de espiar os vícios dos outros, como se fossem os nossos, ainda que os não alimentemos como um vício completo, na vida real… pois que neste mundo falta-nos uma porta totalmente aberta.

Se alguma vez os vamos personalizar desta forma tão excessiva? Não sei responder ao certo…

Teremos outros vícios, mais comedidos talvez, em que “o medo” se forma, na verdade, o maior deles todos! O medo de viver com o vício, aprisionados na sua teia; de sermos descobertos, como sendo viciados em uma qualquer coisa; ou até o medo de viver sem o vício em si.

Os vícios formam, pois, rotinas difíceis de quebrar. Como é certa esta necessidade que sinto em visionar todos os episódios que já foram produzidos, noites seguidas a fim.

A última questão que deixo é, então, até onde vai a sanidade quando consumimos com um apetite voraz o objecto que nos irá ele próprio acabar por devorar?

Existirá um equilíbrio possível?

Há vícios que se querem. E outros que mesmo assim preferimos não saber…

Waiting for Fairy…in a true tale of life


“Bernardo Bertolucci - O céu que nos protege”, de Mimmo Cattarinich


Bernardo Bertolucci foi a estrela esperada na gala da abertura do II Festival do Filme do Estoril, que decorreu no dia 14 deste mês, no Casino, sob a direcção artística do produtor cinematográfico Paulo Branco.

O cineasta com 68 anos e com filmes tão conhecidos como "O último tango em Paris" (1972), o"Último Imperador" (1987), ou o mais recente, “Os sonhadores” (2003), confessou em francês que teve para não vir ao grande encontro, devido a um problema nas costas, mas que pensou que teria “um milagre de Fátima para recuperar a postura” e, logo, não desistiu.

E ainda bem! Para aqueles que tiveram oportunidade de gozar da sua presença! Pois eu, mais uma vez, dedicada escrava do ganha-pão, não gozei do milagre da dispensa laboral, e perdi a oportunidade de conhecer o homem que em tempos conseguiu escandalizar, com um dos filmes mais polémicos da história do cinema.
"O último tango em Paris" trata de um relacionamento sexual, explicitamente mostrado, entre um viúvo (Marlon Brando) e uma desconhecida (Maria Schneider), e mesmo tendo alcançado sucesso mundial, foi considerado obsceno por uns quantos e censurado na época em alguns países.

Durante a homenagem ao realizador, apresentada por Catherine Deneuve no Festival, em que se assistiu à reposição na tela dos seus filmes, Bertolucci falou de como os realizadores são como "crianças" que vão espreitar o quarto dos pais pelo buraco da fechadura, ou "criminosos" cujos filmes são "crimes".

Capaz, por si só, do cinema poesia e do cinema espectáculo, ao criar um forte apelo visual, Bertolucci sempre apresentou temáticas muito marcadas pelos seus próprios dilemas, políticos e humanos, tendo mesmo sido avaliado numa frase única de um crítico alemão, ao referir-se ao seu filme “1900” (1976), como alguém que “tenta harmonizar Marx e Freud'' no seu conjunto.

Interpretações à parte, da sua arte enigmática, julga-se que ele próprio terá dito também para o seu psicanalista, em determinada fase da sua vida, que o seu nome deveria aparecer nos créditos dos seus filmes.

Parece, então, que a exploração das nossas pequenas turbulências interiores, secretas e que tentamos à força recalcar, pode realmente gerar grandes obras: de um génio exorcizado e inerente, não criminoso, pois que é global.

Outros homenageados desta edição do festival, poderão (ou não?) encaixar-se neste perfil: Paul Newman (1925-2008), Luís Bunuel, no 25º aniversário da sua morte, com a projecção de "El ultimo guión" um documentário sobre a sua vida, e o não menos inquietante realizador norte-americano, já aqui elogiado, Tim Burton, com uma retrospectiva integral da sua obra.

E para terminar a lamúria da “gata borralheira acomodada”, até o júri da competição oficial deste Festival, constituído por alguns nomes distintos, como o Prémio Nobel da Literatura 2003, John M. Coetzer, o escritor e realizador norte-americano Paul Auster, o artista plástico Julião Sarmento e a escultora espanhola Cristina Iglesias, poderiam ter legitimado a minha presença no evento, mas a vida espera-se longa e cheia de novas oportunidades...

O Rato mais Rato




A carismática personagem da animação, Mickey Mouse, fez anteontem 80 anos, sem qualquer ruga que o comprove. No entanto, é sabido, que esse é o tempo que decorreu desde que apareceu em "Steamboat Willie", em 1928, pela mão de Walt Disney, logo, também é escorpião!

Os seus primeiros traços foram desenhados pelo norte-americano Ub Iwerks, que lhe deu forma, e sabe-se que inicialmente foi chamado de Mortimer Mouse, mas a mulher de Disney, que já esperava o êxito do ratinho, convencendo-o a mudar o nome para algo mais cativante, e o sucesso não se fez esperar.

Detentor do par de orelhas mais iconográfico de sempre, Mickey Mouse é actualmente considerado a personificação da própria Disney, máquina de magia e fantasia, que continua a estimular e a colorir o imaginário de crianças por todo o mundo.

Rato dos ratos, venha quem vier, revelo aqui a minha alegria pela sua tão desejada imortalidade, e deixo votos para que as suas histórias nunca deixem de encantar, pela doçura com que aparecem ilustradas.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

OBA OBA