quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Waiting for Fairy…in a true tale of life


“Bernardo Bertolucci - O céu que nos protege”, de Mimmo Cattarinich


Bernardo Bertolucci foi a estrela esperada na gala da abertura do II Festival do Filme do Estoril, que decorreu no dia 14 deste mês, no Casino, sob a direcção artística do produtor cinematográfico Paulo Branco.

O cineasta com 68 anos e com filmes tão conhecidos como "O último tango em Paris" (1972), o"Último Imperador" (1987), ou o mais recente, “Os sonhadores” (2003), confessou em francês que teve para não vir ao grande encontro, devido a um problema nas costas, mas que pensou que teria “um milagre de Fátima para recuperar a postura” e, logo, não desistiu.

E ainda bem! Para aqueles que tiveram oportunidade de gozar da sua presença! Pois eu, mais uma vez, dedicada escrava do ganha-pão, não gozei do milagre da dispensa laboral, e perdi a oportunidade de conhecer o homem que em tempos conseguiu escandalizar, com um dos filmes mais polémicos da história do cinema.
"O último tango em Paris" trata de um relacionamento sexual, explicitamente mostrado, entre um viúvo (Marlon Brando) e uma desconhecida (Maria Schneider), e mesmo tendo alcançado sucesso mundial, foi considerado obsceno por uns quantos e censurado na época em alguns países.

Durante a homenagem ao realizador, apresentada por Catherine Deneuve no Festival, em que se assistiu à reposição na tela dos seus filmes, Bertolucci falou de como os realizadores são como "crianças" que vão espreitar o quarto dos pais pelo buraco da fechadura, ou "criminosos" cujos filmes são "crimes".

Capaz, por si só, do cinema poesia e do cinema espectáculo, ao criar um forte apelo visual, Bertolucci sempre apresentou temáticas muito marcadas pelos seus próprios dilemas, políticos e humanos, tendo mesmo sido avaliado numa frase única de um crítico alemão, ao referir-se ao seu filme “1900” (1976), como alguém que “tenta harmonizar Marx e Freud'' no seu conjunto.

Interpretações à parte, da sua arte enigmática, julga-se que ele próprio terá dito também para o seu psicanalista, em determinada fase da sua vida, que o seu nome deveria aparecer nos créditos dos seus filmes.

Parece, então, que a exploração das nossas pequenas turbulências interiores, secretas e que tentamos à força recalcar, pode realmente gerar grandes obras: de um génio exorcizado e inerente, não criminoso, pois que é global.

Outros homenageados desta edição do festival, poderão (ou não?) encaixar-se neste perfil: Paul Newman (1925-2008), Luís Bunuel, no 25º aniversário da sua morte, com a projecção de "El ultimo guión" um documentário sobre a sua vida, e o não menos inquietante realizador norte-americano, já aqui elogiado, Tim Burton, com uma retrospectiva integral da sua obra.

E para terminar a lamúria da “gata borralheira acomodada”, até o júri da competição oficial deste Festival, constituído por alguns nomes distintos, como o Prémio Nobel da Literatura 2003, John M. Coetzer, o escritor e realizador norte-americano Paul Auster, o artista plástico Julião Sarmento e a escultora espanhola Cristina Iglesias, poderiam ter legitimado a minha presença no evento, mas a vida espera-se longa e cheia de novas oportunidades...

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