quarta-feira, 22 de abril de 2009

Enciclopédia da Mulher


Eva Gabor, from the "Green Acres" series (1971)

Há umas semanas o meu avô entregou-me a guarda de uma enciclopédia que pertencia à minha avó Dora. Por aquele gesto inesperado senti-me radiante, pela oportunidade de desvendar, por entre centenas de páginas poeirentas, novas lembranças da minha avó.
Chamava-se Heliodora.
Nome imponente e majestoso que a definiu pela mulher que foi, mãe de família, dona de casa, estudiosa e trabalhadora: uma senhora moderna e respeitada, que teve algumas tristezas sem as merecer. Para mim, quando era pequena, era a minha avó Dindora…e mais tarde Dora ficou, pois era doce para todas as netas e servia-nos romãs cobertas de açúcar.
Estas lembranças que descobri...não são obviamente lembranças de momentos em conjunto mas, de forma mágica, foi como se em cada página que li a encontrasse, no rasto da mesma leitura que um dia fez. Como se pelas frases me apoderasse do seu sentido e as linhas que antes lhe pertenciam me guiassem, ao som da sua voz.
Embora com algumas ideias desajustadas em relação à posição feminina do presente (verdadeiras relíquias que hoje só mesmo guardadas no armário de vidros da sala, para serem apreciadas com um respeito pelo passado, bem disposto por já não ser) a Enciclopédia da Mulher está recheada de preciosidades, com dicas actuais para qualquer mulher independente, que vão da beleza à decoração. Muito aprendi, e continuo a aprender, com a minha avozinha: a fazer a letra bonita, a meter creme nas mãos, pois envelhecem mais depressa…Continuas a ser um modelo que quero seguir!
De repente, ao passear perdida por entre as páginas, enrolam-se-me os cabelos com rolos coloridos, visto a saia de fazenda pelo joelho, os brincos pérola nas orelhas, e transformo-me numa Senhora daquela época.

sábado, 18 de abril de 2009

Sinais de vida



Dia 11 de Abril Susan Boyle brilhou para o mundo, com a sua aparição no programa televisivo Britain’s got talent, interpretando I dreamed a dream da banda sonora do filme Les Miserables. Já milhares de pessoas assistiram ao momento de choque, em que Susan surpreendeu o público céptico que aguardava a sua demonstração.
Nunca achei grande piada a estes programas, e acredito que, não só na música mas noutras artes, existem mais talentos no grande mundo do que as pessoas consideram: ou porque se fecham, reservados, ou porque não lhes foi dado crédito, pelos outros ou pelo próprio.
Por isso não foi só esta descoberta, a que temos o prazer de ter acesso, que me fez abrir excepção. Mas cabeceio insistentemente na alegria que sinto ao tirar exemplo da recompensa de uma grande força de vontade, que nos faz lutar por nós. Grande Susan. E mais ainda, nos pormenores dos sentimentos fortes, inesperados, quando somos atingidos violentamente por uma força que nos toca. Atentem nas evidências físicas do vídeo: a “maçã de Adão” que sobe e desce, suspiros profundos, sorrisos sinceros, lágrimas nos olhos...são esses pequenos sinais que cicatrizam os valores da vida nos acontecimentos importantes…quando nos apaixonamos, nos comovemos…são estes pequenos sinais! Grande Susan, grande música, e grande chapada para quem duvidou!

Radiografia de mim



Ao analisar o meu blog retrospectivamente tracei um perfil de mim própria: romântico-pateta, sonhadora-ingénua, divagante-chata.
Bah, que retrato enfadonho. Falta-me um pouco de pimenta!
Ainda bem que existem as outras perspectivas da câmara. Aquilo que se vê de frente não é verdade, porque esconde tudo o resto, nega o ser...e só nos mente. A radiografia é também um disparate pois, como a psicologia, procura no interior e revela as sombras na obra de arte - admite-as, o que é um bom princípio, mas ainda que se esforce não faz delas o sentido.
E eu sou assim, um pouco de branco e de preto, de luz e confusão...
E continuo feita parva, à procura de uma forma que me defina...Estico os dedos...e começo pela mão...

terça-feira, 14 de abril de 2009

Uma árvore no pulmão



Hoje, quando sentada em frente ao computador tentava fazer delete de mais alguns momentos extenuantes que vivi no meu trabalho, encontrei algures esta noticia http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Mundo/Interior.aspx?content_id=1200940 que me deu azo para divertidas considerações.
Ao que parece foi encontrada dentro do pulmão de um paciente, que operavam por suspeita de cancro nos pulmões, na Rússia, uma pequena árvore em crescimento.
Artyom Sidorkin, de 28 anos, era o feliz portador de um abeto vigoroso, qual jardim interior ou reserva natural de beleza incomparável, não fossem as dores no peito e a tosse persistente causadas pelo abusado invasor.
Se as árvores são para as cidades os seus pulmões, os pulmões são para as árvores as suas cidades prometidas. De estrutura esponjosa e confortável, com uma temperatura húmida mas agradável, o órgão elástico, profissional da hematose no corpo humano, terá com certeza acolhido no seu seio, com as melhores condições possíveis, e comprovadas, a semente que timidamente se infiltrou via nasal rumo ao berço de gestação.
Life finds its way. Ou, direi mais:Life Works in strange ways.
Quando aquilo que nos dá vida, também nos pode levar à morte…chegamos à conclusão que o mundo é realmente feito de contra-sensos, ressalvas e excepções, “mas” e “sess”, descobertas e incógnitas.
Verdadeira ou falsa, quando a própria imagem da notícia levanta dúvidas a quem não é especialista, lanço-te mesmo assim um Avé Ó Grande Universo. Mais uma vez fizeste-me sorrir.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

De olhos mais abertos I

A propósito de um filme que vi recentemente, mas também porque existe tanta beleza no mundo que muitas vezes é descurada (para me restringir a um espaço mais possível)... Resolvi andar "de olhos mais abertos"! (engraçada esta expressão, depois da minha consulta de oftalmogia de ontem...mas isso é uma outra história)
Depois de ter introduzido impulsivamente no meu blog a rubrica "Momentos", chegou a altura de me perder em novas buscas por um novo tema. "De olhos mais abertos" poderia nem vir a existir se eu tivesse dado ouvidos à outra M., que diz que as rubricas são uma forma preguiçosa de postar clichés, e que massa os restantes leitores. Eeeeeeeeeee????
Este blog é meu! Este blog sou eu!
Genuinamente tontinha...
...excessiva.
Aceitem-no ou não.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Dia das mentiras, ou Dia das verdades?



Diz 1 de Abril é conhecido como o Dia das Mentiras. Sabe bem pregar algumas partidas sem que ninguém nos leve a mal!
E porque é que não levam?!
Porque no final do dia acabamos sempre por revelar a verdade, para que nos possamos rir em conjunto, da ingenuidade daqueles que se deixaram levar.
São brincadeiras inocentes, que nos libertam do complexo de criança-pinóquio, que impunha que "mentir é feio!".
Mas eu prefiro antes chamar-lhe o Dia das Verdades, porque neste dia toda a mentira nos é facilmente revelada...à parte daquelas que já existiam, está claro!
Pior são mesmo os outros 364 dias, em que a segurança da verdade não existe, porque a cara de gozo é virada para dentro, enquanto que o rosto visível nos mente com uma tranquilidade fácil.
São anos de treino suado, que poderiam justificar em muitos bons casos a atribuição de um Óscar!
É que quando finalmente se reconhece o mérito ao seu autor, pela mentira descoberta, o gozo é maior por parte de quem foi primeiro enganado, do que o da aranha profissional.
É injusto que não se possa recompensar o trabalho árduo do homem que se dedicou anos a fio a tecer fábulas e historietas, que só se desfizeram porque o lobo apareceu. Deve sentir-se realmente subvalorizado, e arrepender-se por não ter escolhido uma outra profissão, onde a sua imaginação e empenho fossem uma mais valia...escritor, actor, cineasta, palhaço!
Bem, mas como tudo, em que nada é garantido como certo ou errado, ainda continuam a existir algumas mentiras apreciadas, chamadas "as mentiras piedosas", que aliviam tensões e outros males de raiz.
Já dizia quem sabe, "with a spoon full of sugar, helps the medicine go down...the medicine go downnnn...the medicine go down." Pois é...é isso ou apertar o nariz!