quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Galáxias Canibais - O amor não é gratuito



E quando chegámos, do alto da escadaria principal, meninos de olhos brilhantes, pele de chocolate - de leite ou preto, desceram alguns degraus com um sorriso delicioso de curiosidade, seguros de que a visita lhes traria alguns doces e atenção.
Nesse momento era o meu corpo que tremia como gelatina…o meu estômago batia claras em castelo…e o meu coração finalmente derreteu, quando uma menina de dois anos esticou os braços na minha direcção. Assim. Sem conhecer-me escolheu-me a mim.
Peguei-a ao colo e senti-me cheia. Cheia do melhor alimento para a felicidade. A simplicidade do amor de uma criança. Sem receios. Sem condutas. Só assim:
- Eu quero! Queres também?
Percorri os corredores do Hospital com a pequena Sasha pendurada na cintura, o meu pescoço bem apertado. Mas o nó na garganta que sentia era de um sentimento bom. Não sei explicar.
Aqueles meninos estavam doentes. Meninos quebrados pela vida, abandonados...aguardam que o amanhã passe o tempo, sempre repetido na rotina cerrada pelos muros frios do Hospital…que lhes dite o futuro, sem poder de escolha ou de acção.
Mas na troca de um chupa-chupa, foi o meu coração que provou toda a doçura. Ao dar-lhes a mão, o meu abraço, os dois braços juntos,o meu regaço...(a alma toda achada ali!), encontrei a sabedoria do sentimento genuíno:
-Queria ver a praia! - Disse-me um deles.
E foi só quando parti...a praia longe...meninos de braços no ar, dizendo adeus...que percebi a sua generosidade.
Sem dar por isso, recebi muito mais do que lhes dei, dos sacos de doces que levámos. A dívida que lhes tenho, trago comigo para todo o lado. Sinto-a de cada vez que me esqueço de saborear a vida em cada novo dia...Sinto-a de cada vez que o sentimento doce da memória do momento solta em mim uma lágrima salgada.

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