quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Jardins suspensos do silêncio



Dois meses sem escrever no blogue!
Em retiro profundo, arrisco acabar a tese que tento sustentar teimosamente, partindo de pensamentos vagos e instintivos, apenas apoiados por pequenos talos de alguns teóricos fantasiosos.
Não que a sua teoria não pareça brotar sentido, tal como as associações que planto na minha mente caprichosa, também me parecem verdadeiras.
A questão está mesmo nesse “parecer”.
Quando nos agarramos a um objecto de estudo subjectivo, sem uma concretude material que lhe dê forma, o seu “sentido” não passa de uma sensação…e a sua “verdade” de uma aparência.
Na criação do meu jardim suspenso descubro, assim, o quanto as palavras são vertiginosas, pela ambiguidade e indecisão que carregam no seu interior. Perco o equilíbrio e aterro na areia movediça, que me engole até ao nariz, para me impedir de falar e me limitar à observação do mundo.
Fico em silêncio.
E, neste estado, apuro outras valências importantes: tudo fica mais claro e evidente.
Mas por breves momentos apenas.
Pois o silêncio é impossível...
Sim, ele não existe.
As frases que se formam no meu pensamento, involuntariamente, fazem barulho.
Distraem e confundem.
A minha voz não se cala, mesmo com a boca tapada.
A minha escrita não se acalma, estando com as mãos soterradas na areia.
O que é que é o silêncio afinal??
Será que o silêncio é quando se ouve apenas o bater do coração?
Então não é silêncio.
Silêncio é estarmos connosco.
Por isso, nos parece sentirmo-lo e nos parece verdadeiro.
Parece.
Mas não é silencioso.

Utilizo-o da mesma forma:
Na justificação do meu retiro, uso Mahatma Gandhi “O único tirano que eu aceito neste mundo é a silenciosa voz interior” (antes fosse, a minha não é).
Na persecução da tese, uso Paulo Valéry “Cada gota de silêncio é a oportunidade para que um fruto venha a amadurecer” (pois o meu ainda está verde).
Na defesa deste blogue, uso William James “O exercício do silêncio é tão importante quanto a prática da palavra” (às vezes pode ser mais).
Na sublimação do próprio silêncio, uso Charles Chaplin “O som aniquila a grande beleza do silêncio” (mas existem sons que são tão perfeitos).
E contra mim própria, uso Francis Bancon “O silêncio é a virtude dos imbecis” (idiota parece-me menos mau).
Mas porque continuo a achar que é inalcançável, excepto talvez na parte final - conforme as célebres últimas palavras de Hamlet, de Shakespeare “…the rest is silence” – acredito, ainda assim, na sua paz e deixo por isso, no próximo post, um poema de José Régio.

Um comentário:

Anônimo disse...

tá fix