segunda-feira, 3 de março de 2008

Hoje quero ser nada!

"Ofelia", Georg Pauli


Uma flor não tem que ser mais do que uma flor. Basta-lhe ser aquilo que é, não tem de vestir-se de cacto ou bananeira.
Mas nós, espécie rara em vias de extinção, temos de ser sempre algo mais! Filha, amiga, namorada, estudante, trabalhadora, dona de casa, vizinha...isto, aquilo, aquele outro, ambos...tudo ao mesmo tempo!
Sem nunca parar! Sem tempo para sermos somente aquilo que somos!

...Humanos?!
(não fosse toda a carruagem que acarreta o próprio termo...)

Às vezes cansa ter tantos papéis! Perante a sua densidade, fazer opções, derivações, construir novas personagens, para seguir em frente!
Agora sou a M. isto, mais logo a M. aquilo...porque tive de optar, tenho sempre de optar para subir ao " grande palco da interpretação".
E o tempo não pára! Nem apenas por um segundo!

Mas hoje...
...Hoje quero ser NADA!
Sentir-me leve, flutuar...só por uns instantes apenas! Fechar os olhos, e apenas nada!

Não um sono mórbido qualquer, mas um renascimento do eu inicial. Será possível?! Inalterado, intocável...e perfeito! Sem opções, responsabilidades, fatiotas estúpidas ou expressões encaixadas! Um ser pelo ser! Não pelo fazer!



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