quarta-feira, 15 de junho de 2011

Galáxias Canibais - Tudo se parte?


No comboio para Lisboa a janela estilhaçada vicia-me o olhar, preso no quadro perfeito dos fragmentos geométricos de vidro - seguros num padrão aparentemente aleatório, mas que forma uma composição de ordem magistral, sobrepondo-se ao caos do que está partido.
E a luz vinda do exterior, que os cruza reveladora, espelha dezenas de cristais de cores diferentes, lançando feixes de amarelo, azul, verde e rosa pela carruagem bafienta, cheia de gente indiferente a este espectáculo circunstancial.
De repente, revejo-me ali.
Não sou Budista ou Hinduísta…mas será Karma?
Porque é que me deixaste aqui? Assim quebrada.
Porque também quebrei alguém?
Já não há conserto! Só leves reparações.
Por dentro fica o estilhaço..!
Multicolor! Multidor em formas rectas pontiagudas.
A felicidade, no seu sentido absoluto, não é para se alcançar.
Só para se procurar.
É isso que nos move! Disseram-no tantas vezes.
Porque é que nunca acreditei?
Não queria. Eu não podia!
Se o fizesse, não procurava.
Porque é que me deixaste aqui? Assim quebrada.
Como a janela de um comboio que nunca pára, senão no fim do meu trajecto.
Se a felicidade não é estação, quero ser janela para o mundo; quero que na viagem a luz me atravessasse o peito e espelhe um arco-íris ainda mais vivo, por estar quebrada; quero que cada pedaço de mim, cada pedaço de dor, componha algo mais perfeito, no fatalismo da nossa imperfeita perfeição.Se não me virem, pois então quero ver. E quero ser, como quer que seja.

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